sábado, 29 de outubro de 2011

Anestesia

Não me deixe pensar em possibilidades. Tome conta desse meu universo involuntário onde as minhas atitudes e conclusões são desgovernadas. Faça-me sentir que estou completo, mesmo ausente desse mundo de incertezas tão previsíveis. E que, por fim, eu aterrisse em sua atmosfera calma, livre de todos e de mim mesmo.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Epifânia.

Eu gosto é assim. Quando você, previsivelmete, não comparece ao teatro das minhas expectativas. Porque me torno mais certo sobre as minhas próprias certezas e mais econômico de mim mesmo. Econômico dos meus mais íntimos sentidos. Sim. É quando eu descubro o meu acerto, ao pensar que havia cometido um erro em ter acreditado em você.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Eternamente, Maio.

E a minha maior frustração é, nesse momento, não poder te dizer nada. Não conseguir mencionar nem que seja uma só palavra das menos inteligíveis e mais clichês existentes. Porque o meu raciocínio está em estanque. Já os meus gestos- por mais que restritos sejam em sua amplitude intencional- não conseguem te resgatar dessa camisa de força cruel e indissociável.  E eu assisto ela abraçar, impiedosamente, teus pensamentos mais positivos e esperançosos. Sufocando-os. Talvez nem saibas tu, mas eu também me contorço. Perco minha consonância interna e me desfiguro em partes soltas sem nenhum sentido. Entro em estado de latência na dor de saber que nem posso te pedir para esperar o nascer dos dias seguintes, à espera de um sol que renove as tuas expectativas, desate os nós das tuas angustias e redimensione teu semblante. Porque, como sabes, meu bem, estamos em dias nublados. E o tom opaco já se  tornou tão comum aos nossos sentidos. Bem, quase todos. Saibas que estou triste.  Mas não tão somente por me comover, mas porque sou, em partes, reflexo de tua felicidade, de teu bem estar.  É nesse contexto que eu me perfaço em vontades, transformo-me em fins e propósitos.  Assumo a face de quereres os quais não estão, sequer, sob meu alcance e conjugo os verbos no pretérito mais inconveniente. O pretérito das possibilidades, o pretérito dos desejos: o pretérito imperfeito. Na expectativa de que eles se tornem pequenas certezas.
Queria poder soprar em teu rosto, da forma mais afável e promissora o possível, a fim de que os soluços de tua alma fossem sucumbidos. Queria fazê-los parar de pulsar e darem palpites sobre teus medos mais internos. Queria poder te segurar em meus braços da maneira mais firme possível, para manter-te mais equilibrada e segura das tuas próprias certezas. Ou melhor, das tuas probabilidades. Queria vasculhar o teu íntimo, em busca das mais bonitas estrofes de uma música qualquer, para que o som ensurdecesse todo esse drama particular e te conduzisse numa dança. Que nessa valsa moderna, ao estar anestesiada por completo, sentisses tu mais plena de si mesma, apesar de circunstâncias externas inevitáveis. Queria ter te apertado mais forte contra os meus braços- naquele dia que tu chegaste desesperada, engolindo incontáveis lágrimas e confessaste estar sem esperanças. Para que tu, posteriormente, não te desintegrasses. Queria te fazer acreditar em todas essas minhas bobas utopias, fazendo delas razões intensas, certezas incontestáveis. E queria, por fim, que soubesses o quanto podes tu contar comigo nos mais diversos e inconvenientes momentos. Que podemos dar um jeito, nem que seja para mudar a posição de alguns móveis, consertar algumas ideologias e aplacar, se houver, possíveis faltas. E agora, despido de pretéritos e incertezas,  peço que, indubitavelmente, acredites: eu te amo; nós estamos juntos.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Parágrafo único.


You'd know how the time flies
Only yesterday was the time of our lives
We were born and raised in a summer haze
Bound by the surprise of our glory days
Adele.
E eu que achei que fosse te ligar. Que fosse a tua direção, compassado por uma distância quilometricamente mental, ou, simplesmente, mandar-te uma mensagem. Que tomasse eu alguma atitude discretamente humana e bolasse algo digno e respeitável desse momento único e exclusivamente teu. Em que se fazias tu tão distante em termos de presença e consideração, é verdade. Tens tu grandes razões. Potencias motivos para simplesmente desligar o telefone e me ignorar. E eu entendo. Aceito, sobretudo, as tuas justificativas mentalmente embutidas em sorriso que lamentavelmente não existe mais. Porque talvez agora nesse momento, estejas tu envolvendo a outros com teus braços sinuosos e desenhando aquele usual semblante que me fez parar por várias vezes no tempo. E sorrir. Sim, sorrir descontroladamente por lugares cotidianamente habituais, ao ponto de ser considerado um bobo. Mas a verdade é que, há algumas horas atrás, enquanto eu arquitetava as minhas falíveis maneira de chegar até ti, nem que fosse por pensamentos, os lençóis me amarravam. Entrelaçavam-se por todo meu corpo, assumindo o formato de uma camisa de força. E, por fim, fazendo com que eu perdesse o controle de mim mesmo. E acredite: ali se encontravam imóveis e inativas todas as minhas vontades e os meus anseios. Como se eles voltassem a assumir o aspecto desbotado do tempo, em que passaram eles arquivados em meu profundo e tão acessível acervo mental. Esperando, somente, a oportunidade de vir à tona e respirar. Mas, lamentavelmente, mais uma vez, fali. Deixei passar a grande oportunidade de me sentir completo. Na simples tentativa de dizer o quanto fosses importante para mim. O quanto marcasses uma época de minha vida em que os dias de verão assumiriam o aspecto nublado de inverno. Dias tristes. Tomados de expectativas, domados por sonhos estancados e uma espera que nunca acabava. Sim, que nunca acabava. Mas esse ‘nunca’ teve um fim. E eu que tanto avaliei ser cauteloso no uso de advérbios contundentes, presenciasses tu o final de um nunca que, para mim, de eterno, tornou-se uma etapa passada. Marcasses a minha vida. Inevitavelmente. E por mais que eu fuja dessa realidade, por mais que eu me esquive e abaixe a cabeça, toda vez que eu passar pelas esquinas da vida, e tu se fizeres presente, eu vou levantar os meus olhos. Afixá-los em ti, por alguns instantes, e, previsivelmente, lembrar. O quanto foi bom, o quanto me senti bem; o quanto valeu à pena. E quando esses instantes se passarem, retomarei os meus passos, da mesma forma como andas tu agora, sob a luz de outros interesses, de outros sorrisos e abraços. Mas vai se lembrar, também, que eu te fiz feliz, pelos breves e contáveis dias em que acreditasses na minha fidelidade, nas minhas ideologias. Ou que, talvez, simplesmente, agora, balances tu a cabeça, chacoalhe a memória, desorganizando, por fim, as singelas linhas desse imenso parágrafo.

domingo, 22 de maio de 2011

A partida.

Estava partindo. E, diferentemente daquelas vezes que costumava pegar a chave, pendurada por trás da estante, levava consigo uma pequena mala no ombro. Justamente aquela jogada no canto do armário, coberta pelo mofo de alguns anos e pelos séculos passados de sua história conjunta.
Ele estava pensativo, atônito. Abotoava apreensivamente os botões de sua blusa amarrotada, enquanto metabolizava suas próprias atitudes presentes. As quais ele sequer tinha uma justificativa para sustentá-las, suportá-las com viés de motivos.  Porque as suas atitudes eram conseqüências órfãs, desprovidas de causas, de razões.  E divagavam pelo seu universo mental, coordenando as suas raízes nervosas que, racionalmente, implicavam-lhe andar em uma direção, aparentemente, sem propósito. Aparentemente sem rumo. Mas milimetricamente planejada.
E, agora, no corredor, que dava passagem aos outros cômodos da casa, a concisão daquele espaço era suficiente para fazê-lo parar o tempo. Analisar sua trajetória, que, na verdade, não era singular, e fazê-lo pensar duas vezes em sair sem dar-lhe alguma satisfação. Sem deixar-lhe sequer um bilhete. Ela era uma boa mulher, sabia. E deixá-la sem nenhum parâmetro, sem nenhum suporte, seria ignorá-la como parte integrante de sua vida. Da qual, por mais que o tempo inevitavelmente passasse e lhe decodificasse marcas faciais, ela não iria se dissociar. Ela não sairia de sua vida da forma simples como ele estava abandonando aquela velha casa. E toda sua própria história. O fato é que ela era, extremamente, dependente. Dependente de seus eixos, dependente de suas teorias falhas. De seu universo, particularmente, inusitado, que lhe fazia fugir do normal e sentir-se mais solta. Mais humana, talvez. Além de sua capacidade de fazer com que seu o mundo girasse devagar, modulado pela sua cautela imensurável.
Mas, de repente e como tantas outras histórias de amor que estão em seus minutos finais, ele parou. E, bem próximo à porta de saída, resolveu voltar, brevemente, o olhar. Queria captar, por fim, a imagem completa daquele local, daquela realidade. Queria arquivá-la, somente, para em algum momento posterior, reavivá-la. Reascendê-la do passado e ter a certeza de que fez parte de uma história real.  Foi, nesse momento, que, em ímpeto, um fluxo irrevogável de lembranças veio à tona, como se simplesmente quisesse respirar pela ultima vez. Emergir do seu próprio acervo mental, como forma de fuga. E essas lembranças trouxeram-lhe àqueles dias em que, ao chegar cansado do trabalho, ela lhe despia por completo o paletó. Passava-lhe, cautelosamente, a mão sobre a sua cabeça e chamava-lhe para jantar. Os seus abraços sinuosos, o seu perfume entorpecedor. E sua voz sublime que tanto lhe desejava boa noite e clamava-lhe as mais sinceras felicidades nos dias comuns.
É verdade, ele não sabia bem os motivos. Para ser sincero, não queria nem saber. Porque embarcar para dentro de si, naquele momento, a procura de pelo menos se entender, explicar-se nem que fosse pelas mais simples razões, seria a maneira mais previsível de esquivar-se e de não fechar a porta. De não partir. E ele apenas precisava fazer aquilo. Precisava largar todo aquele plano sistematizado, toda aquela realidade arquitetada que havia sido construída para os dois. E voltar para si mesmo, para seu universo, como forma de resguardo.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Querida.

Eu só queria te fazer sorrir.  Fazer com que - em meio a tantos desalentos, tantas angústias, e razões lastimáveis que, inevitavelmente, aconteciam- encontrasses algum motivo para se levantar. Equilibrar-se em um substrato que de tal forma sequer existia. Que estava apagado, disforme. Porque, em sua mente, o concreto e o abstrato já haviam assumido um aspecto único e indissociável. Que se sublimava a todo o momento, a todo instante. E a verdade era, tão somente, que não havia mais certezas, não havia mais convicções. Era tudo síntese. Um somatório de causas e razões dos mais diversos tipos. Incoerentes e coerentes. E nem tudo mais era realidade.
Queria poder te ajudar. Poder fazer-te acreditar em dias mais ensolarados, até em outras possibilidades. Por mais distantes que elas estivessem, por mais utópicas que elas se conformassem. Queria resgatar-te do abismo, formatado pelo tempo e fazer-te crer que, ainda, é possível acreditar. Porque eu também consegui. Lembro-me bem que eu costumava segurar a tua mão e apertava-a bem forte, entrelaçando nossos dedos, a fim de te manter mais segura. Daí, eu te levava a um longo passeio, condensado naquela efemeridade de instantes, que tu afixavas os teus olhos nos meus. Como uma forma de suporte ou mesmo uma viga de concreto metafórica. Porque tu mesma me dizias que eu era, por vezes, a garantia de retificar as tuas mais falhas ideologias. Tuas mais falhas certezas.  E, por fim, levava-te ao encontro dos teus próprios sonhos. Para mostrar-te o mundo que aguardavas. Que te esperava, tão arquitetado, tão mais sublime e avesso, inclusive, àquelas tonalidades cotidianas clichês. Era, nós viajamos constantemente, e confesso que eu fazia isso para mostrar, também, a mim mesmo que era possível acreditar. Acima de qualquer dificuldade. Acima de qualquer utopia.
E quantas vezes eu te pedi, quantas vezes, incansavelmente, implorei pelo teu bem estar. Como se isso fosse algo voluntário de se obter. Como se tivesses o próprio controle do teu estado sentimental e pudesses fazer como que o mundo girasse modulado em torno de tua própria freqüência. Tu eras tão vulnerável, tão frágil e eu não sabia.  E as minhas tentativas falíveis de fazer-te bem mais harmônica, ao te pedir que soltasses mais os cabelos, presos por trás das orelhas. Que mudasses a cor do batom, para sentir-se mais atraente.  É verdade, as minhas loucuras tinham fundamentos. Mas apesar de estar longe, querida, teleporto-me, constantemente, para bem perto de ti, sem que saibas. Para perto dos teus sonhos. E digo que permanecerei bem aqui. Nesse lugar bonito que tu viesses comigo em um dos nossos passeios. A tua espera. E, sobretudo, acreditando.