sábado, 29 de outubro de 2011

Anestesia

Não me deixe pensar em possibilidades. Tome conta desse meu universo involuntário onde as minhas atitudes e conclusões são desgovernadas. Faça-me sentir que estou completo, mesmo ausente desse mundo de incertezas tão previsíveis. E que, por fim, eu aterrisse em sua atmosfera calma, livre de todos e de mim mesmo.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Epifânia.

Eu gosto é assim. Quando você, previsivelmete, não comparece ao teatro das minhas expectativas. Porque me torno mais certo sobre as minhas próprias certezas e mais econômico de mim mesmo. Econômico dos meus mais íntimos sentidos. Sim. É quando eu descubro o meu acerto, ao pensar que havia cometido um erro em ter acreditado em você.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Eternamente, Maio.

E a minha maior frustração é, nesse momento, não poder te dizer nada. Não conseguir mencionar nem que seja uma só palavra das menos inteligíveis e mais clichês existentes. Porque o meu raciocínio está em estanque. Já os meus gestos- por mais que restritos sejam em sua amplitude intencional- não conseguem te resgatar dessa camisa de força cruel e indissociável.  E eu assisto ela abraçar, impiedosamente, teus pensamentos mais positivos e esperançosos. Sufocando-os. Talvez nem saibas tu, mas eu também me contorço. Perco minha consonância interna e me desfiguro em partes soltas sem nenhum sentido. Entro em estado de latência na dor de saber que nem posso te pedir para esperar o nascer dos dias seguintes, à espera de um sol que renove as tuas expectativas, desate os nós das tuas angustias e redimensione teu semblante. Porque, como sabes, meu bem, estamos em dias nublados. E o tom opaco já se  tornou tão comum aos nossos sentidos. Bem, quase todos. Saibas que estou triste.  Mas não tão somente por me comover, mas porque sou, em partes, reflexo de tua felicidade, de teu bem estar.  É nesse contexto que eu me perfaço em vontades, transformo-me em fins e propósitos.  Assumo a face de quereres os quais não estão, sequer, sob meu alcance e conjugo os verbos no pretérito mais inconveniente. O pretérito das possibilidades, o pretérito dos desejos: o pretérito imperfeito. Na expectativa de que eles se tornem pequenas certezas.
Queria poder soprar em teu rosto, da forma mais afável e promissora o possível, a fim de que os soluços de tua alma fossem sucumbidos. Queria fazê-los parar de pulsar e darem palpites sobre teus medos mais internos. Queria poder te segurar em meus braços da maneira mais firme possível, para manter-te mais equilibrada e segura das tuas próprias certezas. Ou melhor, das tuas probabilidades. Queria vasculhar o teu íntimo, em busca das mais bonitas estrofes de uma música qualquer, para que o som ensurdecesse todo esse drama particular e te conduzisse numa dança. Que nessa valsa moderna, ao estar anestesiada por completo, sentisses tu mais plena de si mesma, apesar de circunstâncias externas inevitáveis. Queria ter te apertado mais forte contra os meus braços- naquele dia que tu chegaste desesperada, engolindo incontáveis lágrimas e confessaste estar sem esperanças. Para que tu, posteriormente, não te desintegrasses. Queria te fazer acreditar em todas essas minhas bobas utopias, fazendo delas razões intensas, certezas incontestáveis. E queria, por fim, que soubesses o quanto podes tu contar comigo nos mais diversos e inconvenientes momentos. Que podemos dar um jeito, nem que seja para mudar a posição de alguns móveis, consertar algumas ideologias e aplacar, se houver, possíveis faltas. E agora, despido de pretéritos e incertezas,  peço que, indubitavelmente, acredites: eu te amo; nós estamos juntos.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Parágrafo único.


You'd know how the time flies
Only yesterday was the time of our lives
We were born and raised in a summer haze
Bound by the surprise of our glory days
Adele.
E eu que achei que fosse te ligar. Que fosse a tua direção, compassado por uma distância quilometricamente mental, ou, simplesmente, mandar-te uma mensagem. Que tomasse eu alguma atitude discretamente humana e bolasse algo digno e respeitável desse momento único e exclusivamente teu. Em que se fazias tu tão distante em termos de presença e consideração, é verdade. Tens tu grandes razões. Potencias motivos para simplesmente desligar o telefone e me ignorar. E eu entendo. Aceito, sobretudo, as tuas justificativas mentalmente embutidas em sorriso que lamentavelmente não existe mais. Porque talvez agora nesse momento, estejas tu envolvendo a outros com teus braços sinuosos e desenhando aquele usual semblante que me fez parar por várias vezes no tempo. E sorrir. Sim, sorrir descontroladamente por lugares cotidianamente habituais, ao ponto de ser considerado um bobo. Mas a verdade é que, há algumas horas atrás, enquanto eu arquitetava as minhas falíveis maneira de chegar até ti, nem que fosse por pensamentos, os lençóis me amarravam. Entrelaçavam-se por todo meu corpo, assumindo o formato de uma camisa de força. E, por fim, fazendo com que eu perdesse o controle de mim mesmo. E acredite: ali se encontravam imóveis e inativas todas as minhas vontades e os meus anseios. Como se eles voltassem a assumir o aspecto desbotado do tempo, em que passaram eles arquivados em meu profundo e tão acessível acervo mental. Esperando, somente, a oportunidade de vir à tona e respirar. Mas, lamentavelmente, mais uma vez, fali. Deixei passar a grande oportunidade de me sentir completo. Na simples tentativa de dizer o quanto fosses importante para mim. O quanto marcasses uma época de minha vida em que os dias de verão assumiriam o aspecto nublado de inverno. Dias tristes. Tomados de expectativas, domados por sonhos estancados e uma espera que nunca acabava. Sim, que nunca acabava. Mas esse ‘nunca’ teve um fim. E eu que tanto avaliei ser cauteloso no uso de advérbios contundentes, presenciasses tu o final de um nunca que, para mim, de eterno, tornou-se uma etapa passada. Marcasses a minha vida. Inevitavelmente. E por mais que eu fuja dessa realidade, por mais que eu me esquive e abaixe a cabeça, toda vez que eu passar pelas esquinas da vida, e tu se fizeres presente, eu vou levantar os meus olhos. Afixá-los em ti, por alguns instantes, e, previsivelmente, lembrar. O quanto foi bom, o quanto me senti bem; o quanto valeu à pena. E quando esses instantes se passarem, retomarei os meus passos, da mesma forma como andas tu agora, sob a luz de outros interesses, de outros sorrisos e abraços. Mas vai se lembrar, também, que eu te fiz feliz, pelos breves e contáveis dias em que acreditasses na minha fidelidade, nas minhas ideologias. Ou que, talvez, simplesmente, agora, balances tu a cabeça, chacoalhe a memória, desorganizando, por fim, as singelas linhas desse imenso parágrafo.

domingo, 22 de maio de 2011

A partida.

Estava partindo. E, diferentemente daquelas vezes que costumava pegar a chave, pendurada por trás da estante, levava consigo uma pequena mala no ombro. Justamente aquela jogada no canto do armário, coberta pelo mofo de alguns anos e pelos séculos passados de sua história conjunta.
Ele estava pensativo, atônito. Abotoava apreensivamente os botões de sua blusa amarrotada, enquanto metabolizava suas próprias atitudes presentes. As quais ele sequer tinha uma justificativa para sustentá-las, suportá-las com viés de motivos.  Porque as suas atitudes eram conseqüências órfãs, desprovidas de causas, de razões.  E divagavam pelo seu universo mental, coordenando as suas raízes nervosas que, racionalmente, implicavam-lhe andar em uma direção, aparentemente, sem propósito. Aparentemente sem rumo. Mas milimetricamente planejada.
E, agora, no corredor, que dava passagem aos outros cômodos da casa, a concisão daquele espaço era suficiente para fazê-lo parar o tempo. Analisar sua trajetória, que, na verdade, não era singular, e fazê-lo pensar duas vezes em sair sem dar-lhe alguma satisfação. Sem deixar-lhe sequer um bilhete. Ela era uma boa mulher, sabia. E deixá-la sem nenhum parâmetro, sem nenhum suporte, seria ignorá-la como parte integrante de sua vida. Da qual, por mais que o tempo inevitavelmente passasse e lhe decodificasse marcas faciais, ela não iria se dissociar. Ela não sairia de sua vida da forma simples como ele estava abandonando aquela velha casa. E toda sua própria história. O fato é que ela era, extremamente, dependente. Dependente de seus eixos, dependente de suas teorias falhas. De seu universo, particularmente, inusitado, que lhe fazia fugir do normal e sentir-se mais solta. Mais humana, talvez. Além de sua capacidade de fazer com que seu o mundo girasse devagar, modulado pela sua cautela imensurável.
Mas, de repente e como tantas outras histórias de amor que estão em seus minutos finais, ele parou. E, bem próximo à porta de saída, resolveu voltar, brevemente, o olhar. Queria captar, por fim, a imagem completa daquele local, daquela realidade. Queria arquivá-la, somente, para em algum momento posterior, reavivá-la. Reascendê-la do passado e ter a certeza de que fez parte de uma história real.  Foi, nesse momento, que, em ímpeto, um fluxo irrevogável de lembranças veio à tona, como se simplesmente quisesse respirar pela ultima vez. Emergir do seu próprio acervo mental, como forma de fuga. E essas lembranças trouxeram-lhe àqueles dias em que, ao chegar cansado do trabalho, ela lhe despia por completo o paletó. Passava-lhe, cautelosamente, a mão sobre a sua cabeça e chamava-lhe para jantar. Os seus abraços sinuosos, o seu perfume entorpecedor. E sua voz sublime que tanto lhe desejava boa noite e clamava-lhe as mais sinceras felicidades nos dias comuns.
É verdade, ele não sabia bem os motivos. Para ser sincero, não queria nem saber. Porque embarcar para dentro de si, naquele momento, a procura de pelo menos se entender, explicar-se nem que fosse pelas mais simples razões, seria a maneira mais previsível de esquivar-se e de não fechar a porta. De não partir. E ele apenas precisava fazer aquilo. Precisava largar todo aquele plano sistematizado, toda aquela realidade arquitetada que havia sido construída para os dois. E voltar para si mesmo, para seu universo, como forma de resguardo.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Querida.

Eu só queria te fazer sorrir.  Fazer com que - em meio a tantos desalentos, tantas angústias, e razões lastimáveis que, inevitavelmente, aconteciam- encontrasses algum motivo para se levantar. Equilibrar-se em um substrato que de tal forma sequer existia. Que estava apagado, disforme. Porque, em sua mente, o concreto e o abstrato já haviam assumido um aspecto único e indissociável. Que se sublimava a todo o momento, a todo instante. E a verdade era, tão somente, que não havia mais certezas, não havia mais convicções. Era tudo síntese. Um somatório de causas e razões dos mais diversos tipos. Incoerentes e coerentes. E nem tudo mais era realidade.
Queria poder te ajudar. Poder fazer-te acreditar em dias mais ensolarados, até em outras possibilidades. Por mais distantes que elas estivessem, por mais utópicas que elas se conformassem. Queria resgatar-te do abismo, formatado pelo tempo e fazer-te crer que, ainda, é possível acreditar. Porque eu também consegui. Lembro-me bem que eu costumava segurar a tua mão e apertava-a bem forte, entrelaçando nossos dedos, a fim de te manter mais segura. Daí, eu te levava a um longo passeio, condensado naquela efemeridade de instantes, que tu afixavas os teus olhos nos meus. Como uma forma de suporte ou mesmo uma viga de concreto metafórica. Porque tu mesma me dizias que eu era, por vezes, a garantia de retificar as tuas mais falhas ideologias. Tuas mais falhas certezas.  E, por fim, levava-te ao encontro dos teus próprios sonhos. Para mostrar-te o mundo que aguardavas. Que te esperava, tão arquitetado, tão mais sublime e avesso, inclusive, àquelas tonalidades cotidianas clichês. Era, nós viajamos constantemente, e confesso que eu fazia isso para mostrar, também, a mim mesmo que era possível acreditar. Acima de qualquer dificuldade. Acima de qualquer utopia.
E quantas vezes eu te pedi, quantas vezes, incansavelmente, implorei pelo teu bem estar. Como se isso fosse algo voluntário de se obter. Como se tivesses o próprio controle do teu estado sentimental e pudesses fazer como que o mundo girasse modulado em torno de tua própria freqüência. Tu eras tão vulnerável, tão frágil e eu não sabia.  E as minhas tentativas falíveis de fazer-te bem mais harmônica, ao te pedir que soltasses mais os cabelos, presos por trás das orelhas. Que mudasses a cor do batom, para sentir-se mais atraente.  É verdade, as minhas loucuras tinham fundamentos. Mas apesar de estar longe, querida, teleporto-me, constantemente, para bem perto de ti, sem que saibas. Para perto dos teus sonhos. E digo que permanecerei bem aqui. Nesse lugar bonito que tu viesses comigo em um dos nossos passeios. A tua espera. E, sobretudo, acreditando.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Simplifique.

"É síntese, uma integração de dados: não há que tirar nem pôr. Não me corte em fatias (ninguém abraça pedaços)."
                                                                                   
A verdade, porém, é que já estava eu completamente desvinculado. Não conseguia sequer sentir o peso de minhas articulações, aparentemente jovens e saudáveis. Justamente, elas que estabeleciam uma ponte de contato entre os meus sistemas orgânico e sinestésico. Era estranho, mas, sobretudo, admissível a um garoto apaixonado por sinestesias. Pelo devaneio palpável e pela realidade psicodélica. Bem, a minha. O fato é que, nesse momento, como de costume, eu estava um estilhaço por completo. Um conjunto aleatório de vértebras e sentidos, misturados sem nenhum propósito ou fim. Sem nenhuma coesão. E precisava de algo a mais que me fizesse pulsar, que me fizesse sentir substancialmente o real sentido da vida; que me fizesse se sentir íntegro, mesmo sendo dono de uma gama de convicções particulares e uma personalidade própria. Forte, pujante.  A qual me dilacerava constantemente em pedaços comuns.
Mas eu não só tinha uma personalidade fixa. Ou melhor, era uma personalidade multifacetada. Havia chegado a essa brilhante conclusão ao conversar com uma grande amiga e ao perceber minhas oscilações diárias de comportamento. As quais me ocupavam mentalmente com todas aquelas preocupações constantes de tentar mudar e modificar-me. Ou de tentar, ao menos, descobrir-me. Redescobrir-me em um exercício contínuo. Enxugando meus próprios pleonasmos, suprimindo os meus excessos desnecessários e aprimorando as minhas mais íntimas metáforas. Porque a vida é uma metáfora infindável.  A qual se desgastava, paulatinamente, pelo acúmulo de poeira, oriunda de meu descaso cotidiano. De meus compromissos diários, e de minha racionalidade visualmente marcante.
Pois sim. Foi quando tropecei bem em frente a minha imagem, colidi com aqueles traços nítidos e simultaneamente confusos; entrei em rota de colisão com meus diferentes constituintes, cujas teorias e convicções eram avessas e tentei entendê-los. Aceitá-los. Sem querer, no entanto, organizá-los em compartimentos dissociáveis, porque, afinal, eu era a síntese de tudo aquilo. De todas aquelas personalidades. Um paradoxo. Que precisava somente existir. Sem a necessidade de ser interpretado por pessoas que buscam, constantemente, as clássicas relações de causa e efeito. Que buscam razões, as quais não necessariamente existem. Porque raciocínios não precisam ser retilíneos e uniformes, para efetivamente, serem racionais. E como demorei a perceber isso tudo...
Daí, nessa busca desesperada por tentar manter unidas todas as minhas partes singulares, encontrei um alguém. Uma  pessoa querida, as palavras mais doces que, dependendo da dose, poderiam funcionar como os mais potentes analgésicos. Paliativos ou duradouros.  Foi quando procurei me sentir bem e buscar as mais simples análises para as minhas preocupações.  Simplificar a complexidade dos meus motivos. Tentando reduzi-los ao máximo como sempre pedias, ao descer daquele carro de cor verde-azulada. Pedindo para que eu ficasse bem. Sua cautela sem medidas, o seu olhar atencioso que envolvia as minhas múltiplas direções de campo visual. Na tentativa de compreender-me nem que fosse por um instante. Um detalhe. E era, nesse exato momento, que sorríamos juntos. De uma forma não tão compassada, mas original. Nossa. E, de repente, como quando eu te pedia para ser abraçado por alguns longos segundos. Para que eu, escondido, pudesse depois converter aquele momento em minutos, horas, ou tardes inteiras. É verdade. Tu nem sabias, mas agora te confesso que aquela era a forma de eu me sentir mais inteiro, mais completo. Conciliando todas as aquelas minhas partes soltas, que você as segurava nos braços e sequer sabia. Sustentava, por aqueles contáveis segundos, a carga de minha história. A minha vida, os meus pensamentos. Minhas múltiplas realidades, meus múltiplos EU’s. E quando tu me soltavas, já nem era mais tão tarde para recomeçar. Ali, eu estava apto a andar com os próprios pés, disposto a vasculhar meus escombros. E, novamente, reunir os meus próprios pedaços.

sábado, 30 de abril de 2011

Maio.

‘’ Nós dois nos olhávamos profundamente, como se houvesse algo a ser descoberto. Ou, simplesmente, como se apenas houvesse algo a ser dito. Externado. Expurgado dentes a fora, da maneira mais suave possível. Mais sincera e mais amável. Mais afável. Porque você era feita de delicadeza. A simplicidade em forma de pessoa. Em forma de mulher. E ali estávamos- sentados do lado direito do pátio, como de costume, - lado a lado. Só que separados por significativos quilômetros de convicções, abismos sentimentais e razões fúteis. Sim, razões fúteis. E justificativas momentâneas, daquelas que se diluem com o tempo.
 [...]
Foi quando você quebrou o silêncio. Equilibrou-se em torno de sua própria linha de raciocínio e, diferentemente do que eu esperava, inundou-me com as poucas seguintes palavras: ’Maio já está acabando. E até quando vamos ficar assim?!’  Não havia mais nada a ser dito, porque você, naquele momento,  já havia feito tudo.”
E agora, antes que ele comece de baixo dessas gotas de chuva, vim anunciar a sua chegada. Como sempre costumava fazer, sussurrando aos pés de seu ouvido, ou até mesmo com os bilhetes disformes de folha de papel. Rasgados sem a necessidade por uma perfeição simétrica. E a verdade, quetu bem sabes, é que nesse ano não existem mais bilhetes. Nem se faz mais assídua a minha pertinente voz que versava sobre os paradoxos, as loucuras e os devaneios pelos quais passaríamos. Porque, assim como aquele ano, esse mês também vai passar. E nós iríamos, mais uma vez, falir. Sim. Falir se fôssemos nos transformar em tentativas para converter em maio todos os outros meses. Para que pudéssemos resgatar a chance de voltar a esse tempo e cantar, em uma mesma sinfonia, a música que marcou a nossa amizade. Para que pudéssemos rir de nossas tradicionais futilidades e fingir que éramos felizes. Sobre aquelas circunstâncias, evidentemente. Para que pudéssemos retroagir àquele momento em que te abracei, porque tu estavas desesperada com o fim do mês e o possível fim da nossa amizade. E agora eu te digo que maio já começou. Ou melhor, recomeçou. Assim como os dias e as noites se sucedem, assim como as nossas próprias palavras, em estrofes de uma música, são recicladas e também se sucedem; assim como quando toda vez que te abraço, retorno àquele mesmo instante que tu fizeste tudo valer à pena. Com pequenas e simples palavras. Por isso, meu bem, tenhas certeza: Maio nunca vai acabar.

sábado, 23 de abril de 2011

Um bilhete.

                                         
‘’Podes nem acreditar, podes até nem querer saber; podes, inclusive, ter as suas inúmeras razões, não contesto. Mas a verdade é que tu me fazes falta. De uma maneira que eu sequer consigo narrar. Saibas disso e uses como achar mais conveniente. E saibas, também, que o lugar onde eu te guardo continua sendo o mesmo. Inalterado. Em que te carrego na forma de palavras versando sobre borboletas- grafadas em tinta verde- em um papel amarrotado, ainda na minha carteira. No meu bolso. Onde quer que eu vá.’’
                                                                                 Um amigo.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Castelo de cartas.

“Eles gostariam de salvar a paixão, de fazê-la durar, de conservá-la... Como poderia, se ela não depende deles, se a duração a mata, quando ela está feliz, já que a idéia de conservação é o contrário da paixão? Toda falta se aplaca, se não mata: porque a satisfazemos, porque nos habituamos a ela, porque a esquecemos...”.
                                                                                                                                 André Comte-Sponville.
 E o fato é que ela havia acabado. Demorou um pouco para ambas as partes perceberem. Aceitarem. Porque, em essência, já não fazia mais sentido, já não havia mais o mesmo encanto. Não olhavas mais nos meus olhos a procura de uma razão palpável para justificar a tua presença naquele lugar. Porque talvez nem houvesse mais justificativas. Não houvesse mais fins, nem afins. Talvez porque tudo já havia sido descoberto e os mistérios já teriam assumido a face de certezas. E foram essas certezas que nos fizeram olhar, continuamente, de uma forma vaga, porém, milimetricamente, mensurável para os nossos próprios papéis. Nossos próprios eixos. Eu conseguia perceber, nitidamente, a sua perda interna, na tentativa de camuflá-la, como de costume, em artifícios seus. Com a sua assídua inconstância. A qual me desafiava. A qual me dilacerava em vértebras incomuns, singulares. E que me contagiava. Sim. Daí eu passei a me perder nos seus caminhos mais íntimos, a vasculhar os seus escombros sentimentais, em busca de repostas para as minhas próprias atitudes. Meus próprios motivos. Mas elas, as respostas, eram difusas, eram redundantes. E esse ciclo vicioso, somente, fez-me chegar à conclusão de que erramos em conjunto. Dançamos uma valsa sincrônica e fomos cúmplices. Porque chamamos nossos erros de pontos de vista.
Mas não. Não foram erros. Atribuir essa denominação a tudo seria uma maneira simplista de querer que existam culpados; de querer sintetizar ao máximo os fatores em busca de um denominador comum; de querer que existam desculpas, lágrimas ou, quem sabe, arrependimento. E não há arrependimentos. Ambos sabíamos que, na verdade, houve uma gama seqüencial de fatos, atropelados. Mal interpretados. E não houve, sobretudo, tempo. Não houve circunstâncias que viabilizassem um encontro, não houve possibilidade sequer de visualizar o seu rosto. De saber que está bem, de ver que você não precisava mais de mim e, inevitavelmente, poder eu validar as minhas próprias conjecturas. Materializando-as.  Porque eu precisava voltar ao meu plano real, ao meu substrato, as minhas ideologias. Que se encontravam em repouso. Eu me encontrava em repouso. Esperando, sonhando. E, por fim, cansei. Cansei de acreditar, cansei de ressuscitar as suas palavras, tentando ordená-las de uma maneira que me fizesse sentido. Que soasse coerente aos meus ouvidos. Coerente a sua pessoa. Mas nem elas se fizeram presentes no momento em que tentei buscá-las no meu acervo mental. No porão de minha alma. Na reles expectativa de formatar a tua imagem quando brotavam as sextas-feiras nubladas. E o cinza do céu ambientava o pano de fundo da minha memória, de uma maneira particular. Intimamente, sua.
Pois bem.  Foi nessa busca incansável por palavras que encontrei o seu silêncio. E que passei a formatar o meu também, como se fosse um decalque. Porém, cada um com certo tom de originalidade. Fiel aos nossos próprios sentidos e instintos. Foi quando, também, eu me calei. E deixei de sorrir como sorria antes, andando, desconcertadamente, pela rua e distraído em uma aula chata. Ou como quando trafeguei pela aquela avenida, sentado no ônibus, que antes de  embarcar você havia gritado o meu nome. Para dizer que havia sido massa. É, e foi.  Você nem sabe, mas a verdade é que eu embrulhei aquele momento e guardei nos meus arquivos confidenciais. Para não amarrotá-lo com as dobras e nuances do tempo. Para não perder a sua cor autêntica e desbotada de um fim de tarde. E para me servir de certeza de que até pequenos momentos valem a pena. Por mais sucintos que sejam, por mais rápidos que se apresentem. Por mais rápidos que eles se esvaiam. Como um vento que sopra. E como eu mesmo assoprei o meu próprio castelo de cartas. Para que ele não se degradasse ou perdesse sua forma vulnerável. E para que outras histórias, outros casos, outras paixões pudessem acontecer. Tivessem a chance de existir. Assoprei, apenas. Mas conservo em mim a imagem integra e sólida disso tudo, edificada em minha memória.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Um lápis, um desenho, uma lembrança.

Eu sigo. Pelo menos continuo seguindo. Apesar da existência daqueles dias em que seguir se torna um exercício estafante, e você parece pairar em meio a todo um oceano de compromissos, cujas marés são embalsamadas por um distúrbio climático chamado cotidiano. É quando você se sente andando em uma linha imaginária retrógada, um caminho contrário; simétrico, no entanto. E você, nesse eixo difuso, próprio dos padrões psicológicos mais íntimos, intrínsecos, alimentados por sua alma confusa, porém veemente, depara-se com as antigas coordenadas de sua vida. Não tão antigas. Passadas, apenas.

Abri os olhos. E, diferentemente daquele dia nublado, tu não estavas aqui. Nem mais tão perto, nem mais presente. Foi quando os dias nublados perderam a sua tonalidade desbotada, própria dos momentos mais íntimos dos casais, e a cor cinza, que tomei emprestada para pintar os meus dias comuns, voltou a pertencer ao estojo de uma criança que, há mais de uma década, deixou de existir. Porque agora ela se fazia um adulto. A verdade é que quando criança, eu não entendia a necessidade da existência de uma cor tão amorfa, tão disforme, resultante da indecisão dos mais perfeitos paradoxos: o branco e o preto. E, hoje em dia, entendido por gente grande, sei da necessidade de existir aquele lápis de cor, praticamente ignorado em um estojo farto de possibilidades; o que seria dos amantes se ele não existisse. O que seria de mim, já que não teria onde recorrer a um empréstimo tão fiel e seguro. Ou sequer não teria com o que contornar as bordas dos meus dias comuns. Na expectativa de você voltar. E esse lápis se faz o pretexto de eu retroceder ao meu passado, divagando, conscientemente, pelo meu plano cartesiano, definido pelos meus eixos simétricos e coordenadas nítidas. Um pretexto de buscar a ti, minha infância, e, quem sabe, reencontrar quem eu tanto quero.
Foi quando eu tive uma brilhante idéia. E, com o mesmo lápis, utilizado para pintar o pano de fundo dos meus dias clichês, resolvi te desenhar. Sim, desenhar-te. Possivelmente, um decalque, porque não havia intenção alguma em distorcer a tua imagem, tão bem delineada nos contornos do meu pensamento. Então, imaginei aquele último dia, que, nas mesmas circunstâncias nubladas, tu olhavas para mim atentamente. Como se quisesse decifrar todos os mistérios presentes no meu olhar profundo e sincero. O teu porto-seguro. Enquanto eu segurava a tua mão, perpassava meus dedos por entre os teus, a fim de assegurar aquilo tudo ser uma verdade. E, de maneira firme, sem nem tu perceberes, eu te segurava contra os meus braços, em receio de, nos minutos subseqüentes, tu fazeres parte do meu passado. E não mais me aquecer. Nós sabíamos de tudo isso. Ou melhor, de tudo o que estava por vir. Apenas, fingíamos. Porque, apesar de não ter existido frases, nem promessas, existia mais alguém naquele cenário amordaçado e restrito, que executava nosso fluxo mental, nossa sintonia. O silêncio. Inabalável e confidente.  Que repousava em meio aos lençóis, que não mais nos envolvia, mas formatava nítido um divisor de águas.
Era uma despedia. Cordial.
(...)
Mas calma. Voltei ao meu estado presente e normal. E, depois de ter balançado a cabeça e esticado os braços, constatei a tua ausência. E, mobilizado pela vontade de seguir, ela tornou-se inexpressiva, arquivada como ponto no meu eixo cartesiano e guardada no seio da minha memória. Acontece que hoje está nublado; retroceder seria um exercício inevitável. Só que essa cor difusa, que mancha a suntuosidade do céu, não foi obra dos meus decalques. Talvez outro alguém esteja brincando de voltar ao passado. Talvez quisesse rememorar os fatos, sentir o cheiro e visualizar aquele universo de sensações. Tu, talvez. Porque só nós dois sabíamos a cominação possível, a dosagem perfeita daquela mistura de cores. De fatores.
Foi quando- em meio à janela do meu quarto e observando aquela visão panorâmica, aquele infinito- eu sorri. Foi quando eu, ainda garoto, também sorri, depois de ter constatado a ausência do lápis cinza na sua forma inteira.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Guarda-roupa.

Bate no peito um vazio.  E você, de repente, tenta buscar alguma forma, alguma medida capaz de estancar aquela finita distancia profunda entre a alma e os próprios sentidos, calcada nas linhas difusas dos seus mais íntimos pensamentos.
Tratava-se de um domingo. À noite. E, como outro qualquer, existiam apenas as confidências de uma pessoa singular e as paredes desbotadas do seu pequeno apartamento. Sim, era eu. Além de um guarda-roupa simplório que se fazia solitário, bem no canto, envolvendo-me com a sua tonalidade azul clara e transmitindo a mim uma pequena parcela de sua imponente tranqüilidade. Tranqüilidade essa que me entorpecia, em quase todos os sentidos e me fazia rotacionar ao longo do meu próprio eixo, formatado pelas minhas funcionalidades e convicções. Ou das minhas lembranças, das minhas recordações.  Um eixo duplo, sincrônico. E eu temia, justamente, essa sua capacidade inigualável de me fazer retroagir a um nível basal de nostalgia, modificando as minhas rotações internas, onde eu não conseguia sequer saber me diferenciar entre o passado e o presente. Onde eu, possivelmente, comprometeria o meu futuro e ficaria restrito e alienado a essas transições cíclicas dos tempos verbais. É, confesso. E quantas vezes eu me perdi, quanto tempo eu levei para me localizar e conduzir no meio das minhas incontáveis perdas nesse hemisfério torto e sem juízo, em que o tempo não se faz preciso. Não se faz presente. Onde não existe presente. Um universo, cujos comandos são direcionados pelos meus devaneios, pelo meu inconsciente e essa minha constante sede de viver tudo, sincopado em um único dia. Em um único momento. Onde os comandos não são unidirecionais e você, meu universo, fornece-me a possibilidade de concretizar todos os sonhos que contornam as minhas noites prazerosas. Pujantes, precisas. Onde eu possa ser verdadeiramente o que sou. Com as minhas múltiplas facetas, com as minhas diferentes entonações no riso e no olhar. Onde a minha oscilação de humor não se faça tão estranha, tornando-se admissível. E onde eu possa me sentir menos orgânico, porém mais sublime e ideal. Surreal.
Pois bem, meu caro amigo guarda-roupa, apesar de você me abduzir e transportar para o meu universo mental, dotado de qualidades e defeitos, prefiro permanecer nesse meu plano bidimensional. Estático. E, por vezes, apático. Inerte e sem sabor. Você bem sabe. E, nesse momento, sentado diante das minhas múltiplas possibilidades de modelar o futuro, posso lhe fitar me observando sedutoramente; sentir sua tranqüilidade contagiante e escutar, em um volume bem suave, as palavras balbuciadas, em silêncio, pela sua fechadura metálica. Um silêncio ensurdecedor. Intercalado por pausas bem colocadas, vírgulas bem pontuadas e uma gama de reticências, para enfatizar a sua subjetividade. Você é previsivelmente decifrável. A verdade é que somos cúmplices. Parceiros. Compartilhamos desabafos, damos conselhos. E eu aprecio a sua atenção incomparável. Sua serenidade, evidenciada ao escutar das minhas palavras, versando sobre as decepções e tristezas da vida. Sua complacência em me fazer sentir abraçado, aconchegado, mesmo que metaforicamente, a sua estrutura de ferro soldada. Sua presença, seu silêncio.
Mas você, nesse momento, tentava conduzir os meus passos e mobilizar minhas mãos para destrancá-lo. Deixá-lo aberto, nem que fosse por frestas, mas o suficiente para emanar, de dentro de si, todas as minhas lembranças arquivadas no seu interior. As cartas, os objetos, as roupas. Aliados ao agradável cheiro de passado latente. Nostálgico.  Ao som das músicas mais marcantes e que acabaram por representar pessoas bastante queridas e eternas. As fotos, não em tons amarelados, mas sobrecarregadas e com cunho psicológico forte, porque elas arrastam momentos e fatos passados. Dilacerados e reconstituíveis. Rememoráveis.
O fato é que você gosta de me ver perdido em meio a tudo isso. Em meio a essa sinestesia e confusão nos meus ritmos rotatórios. Em meio ao que penso, ao que prego como ideologia. Em meio aos meus paradoxos. Põe-me em rota de colisão em todos os sentidos. Mas acontece que estou cansado. Cansado de me perder, cansado de me achar. Cansado de descobrir e me redescobrir em meio a tanto ilusionismo. A tanta metafísica. E, enquanto você pensa em fantasiar com o meu presente, chacoalhando os fatos da minha memória, eu permaneço aqui, sentado. E sorrindo, apenas.

domingo, 3 de abril de 2011

Nossa música.

“I can tell by your eyes that you've probably been crying forever,
and the stars in the sky don't mean nothing to you, they're a mirror…”


São os versos de uma música de Rod Stewart, entoadas por uma alternância de vozes dele e do sonoro timbre de Amy Belle. Uma melodia suave a qual tornava todo aquele ambiente nostálgico, carregado de lembranças e motivos bons, acredito. E ela mobilizava a sua inércia, sua divagação. Com um olhar transparente e vítreo como se buscasse, em um passado não tão remoto, a resposta para aquele momento que se passava. Estatelado diante de si. Um passado latente, cujo formato era um puro decalque daquele presente. Só que redimensionado, porque o tempo reconfigura todos os aspectos possíveis e palpáveis. Afirma ou remodela nossos planos, nossas expectativas. Os nossos desejos. As nossas feições. E eu podia ver suas rugas dilatadas de uma forma que expressava uma preocupação constante, perpétua e, ao mesmo tempo, uma cautela sem igual. A sua cautela que me inspirava e ainda me inspira, quando tento por em prática o meu exercício de ser humano. De ser um ser humano. E apesar das falhas nos seus cabelos me mostrarem que os tempos não mais são os mesmos, ele se senta perto de mim, como sempre fez, extrai algumas palavras de seu acervo gramatical tão restrito e inicia uma conversa de amigo pra amigo. Ele é meu pai. E estava ali, tão próximo como de costume, mas no canto de uma roda de familiares, tão pensativo e distante. Uma distancia que eu podia filtrar milimetricamente pela sintonia dos nossos pensamentos.
 Foi quando ele soltou uma lágrima e, desconsertadamente, procurou-a pelos caminhos de seu rosto antes que eu fitasse aquele momento de fraqueza. E, enquanto ela descia, voltei ao nosso passado para sentir você drenando o meu medo de perdê-lo, intercalado pelos meus rítmicos suspiros e afagos, transpirados pelas minhas lágrimas de criança; para ouvir você, quando um dia teve que sair de casa, lamentar por aquilo tudo estar acontecendo, que não fazia parte dos seus planos e que você pedia para acreditar que era um bom homem. Que não ia me abandonar. E eu sempre acreditei com a mesma firmeza que você me carregava todas as noites nos braços, quando eu adormecia previsivelmente naquele sofá empoeirado.
 Mas música passava, o tempo estava passando, condensado naqueles versos. E eu podia sentir que você relutava contra essa efemeridade e ansiava por me levar novamente àquele parque perto de casa. Hoje, completamente, modificado. Só que a minha vontade era de correr. Sim, correr o mais rápido que pudesse para resgatá-lo daquela cascata de pensamentos, abraçá-lo fartamente e fazê-lo acreditar nas possibilidades futuras, nos nossos sonhos concretizados. Em uma família bem mais estruturada. Nas minhas utopias, no meu mundo. No nosso mundo. Só que você estava cético, porque já havia esperado demais, vendo o mundo mover as suas engrenagens, enquanto sonhava e, ao mesmo tempo, lamentava, sentado naquela velha cadeira branca, os fatos serem imutáveis. Foi assim que, com você, eu aprendi a sonhar. Buscar, acreditar. E eu tentava entender de onde brotava tanta esperança em um homem dotado de tão pouca fé. E a sua paciência se fazia como resposta bem mais plausível. Bem mais ajustável e real.
(...)
De repente você aterrissou e, recomposto de sua avalanche de lembranças, caminhou em minha direção. Cambaleante, receoso, porém firme. Contornou os meus traços faciais, a fim de constatar que seu filho não era mais aquela criança que, ansiosamente, esperava a sua volta para casa ao fim do dia e, que reclamava de seu bom gosto musical, das músicas dos Beatles. E me abraçou. Contundentemente. Com o desejo de parar o tempo e reprisar toda aquela música, toda aquela sinfonia inúmeras vezes, para que ela grafasse em nossa memória aquele momento que se esvaia, que sublimava; para tornar eternas suas palavras subseqüentes, as quais carrego em meu bolso e me refugio nos momentos de fraqueza. E ele disse: “Eu te amo e lamento por tudo isso. Você merecia muito mais e não pude fazer nada.”
Só que você, em meio à sua rara impotência, já havia feito tudo. Porque ainda me sinto em seus braços, porque ouço as suas singelas palavras ecoarem a todo instante e porque você não deixou a nossa música acabar.